Rodrigo Freitas Palma
A famosa “guayabera”
é uma tradicional camisa de mangas longas feitas de algodão ou linho usada há
séculos pelo povo cubano. Seu estilo todo peculiar, com quatro grandes bolsos,
parece combinar enormemente com o trabalho nos campos e as altas temperaturas
experimentadas durante o ano inteiro na tropical ilha caribenha. O padrão
estabelecido pelo costume local insiste que a vestimenta seja utilizada de
forma devida, ou seja, sempre para “fora das calças”.
Foto
de Javier Galeano/AP - 1.mai.10
Fonte:
www1.folha.uol.com.br/mundo/810802-cuba
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Ora, esta curiosidade
tinha tudo para passar despercebida para a comunidade internacional.
Entretanto, logo no início do mês de Outubro e 2010, eis que Raúl Castro apela para o
império da lei para oficializar a dita roupa no universo das relações
exteriores. Aboliu-se, deste modo, o conhecido traje verde-oliva eternizado por
Fidel. Segundo a visão “progressista” do novo ditador cubano, a camisa é uma
espécie de “símbolo” do patriotismo nacional e da “resistência ao domínio
estrangeiro”. Por isso mesmo, a partir de agora, todo e qualquer diplomata
cubano, em razão do imperativo legal, deverá comparecer a quaisquer conferências
internacionais ostentando orgulhosamente uma “guayabera” na cor branca
combinada com calças azuis. Ah! Já ia me esquecendo: às mulheres é lícito fazer
uso de pequenas variações no tocante às cores. Nada mais surreal.
Sabe-se que durante
os anos pós-revolucionários, a ditadura de Fidel somente conseguiu se
celebrizar pelo mais absoluto desrespeito aos direitos humanos. Como de praxe,
perseguiu e calou opositores e se assenhoreou dos meios de comunicação até
alcançar a “unanimidade” que caracteriza os desvarios daqueles que são amantes
do poder. E os insatisfeitos? Que se retirem. E de fato eles se retiraram aos
milhares para a Flórida, onde foram recebidos de braços abertos. Outros tantos
menos afortunados continuam tentando. E clamam aos céus para que suas pequenas
embarcações, não raro fragilizadas pelas enormes ondas que apontam no horizonte
do famigerado “Triângulo das Bermudas”, consigam, enfim, chegar ao destino tão
sonhado.
É fato que a
iniciativa tomada por Raúl Castro, incrivelmente festejada por alguns saudosos
líderes latino-americanos, apenas reflete a deplorável condição de decadência
das instituições de Cuba, as quais, como tudo mais, encontram-se falidas há
muito tempo.
No contexto em
questão, leis esdrúxulas como a da “guayabera” servem apenas para traduzir o tremendo
descaso das duas únicas e absolutas “autoridades” do país – os irmãos Castro - por
uma população sofrida, que não possui acesso aos bens e serviços essenciais a
uma existência verdadeiramente digna. Aliás, decorridos cinqüenta anos, estas
gerações nem mais sabem que a única função a que se presta qualquer Estado
consiste na realização do bem-estar social.
Como não poderia ser
diferente, Hugo Chavez, orgulhoso de suas “guayaberas” multicores [especialmente
a vermelha], não perdeu a oportunidade para reverenciar publicamente Fidel
Castro, seu ícone. Lula, por sua vez, mais conservador e menos afeito
a variações, apesar de igualmente saudoso, foi mais fiel ao figurino. Vestiu
uma “guayabera” branca ao lado de Raúl e aguardou os flashes. Se a moda pega....
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